O que aprender com a “máfia do Paypal”

Saiba como a combinação de talento, amizade e dinheiro criou um dos mais influentes grupo de pessoas do Vale do Silício, que investe nas mais importantes startups do mundo

(Da esq. à dir.) O bilionário Elon Musk revoluciona o transporte com carros elétricos e foguetes espaciais; Reid Hoffman criou o LinkdeIn, rede social para empresas vendida para a Microsoft por US$ 26 bilhões; e Peter Thiel foi um dos primeiros investidores do Facebook. Ele criou um fundo que financia 231 startups.
(Da esq. à dir.) O bilionário Elon Musk revoluciona o transporte com carros elétricos e foguetes espaciais; Reid Hoffman criou o LinkdeIn, rede social para empresas vendida para a Microsoft por US$ 26 bilhões; e Peter Thiel foi um dos primeiros investidores do Facebook. Ele criou um fundo que financia 231 startups.

Em junho, a Microsoft surpreendeu o mercado ao anunciar a maior aquisição de sua história. Por US$ 26,2 bilhões, a companhia de Bill Gates comprou a rede social corporativa LinkedIn. Um dos maiores negócios do setor de internet neste ano colocou em evidência o empreendedor americano Reid Hoffman, criador da plataforma online, e reforçou no mercado a sensação de onipotência de um seleto grupo batizado como a “Máfia do Paypal”, um termo que não tem nada de pejorativo. Ao contrário. Ela se refere a um time de pessoas que trabalhou em uma das empresas pioneiras do pagamento online do mundo. Ao deixarem a companhia, quando ela foi comprada pelo site de leilões eBay por US$ 1,5 bilhão, em 2002, eles estiveram – e ainda estão – por trás das mais bem-sucedidas startups do planeta, espalhando sua influência por todos os cantos do Vale do Silício, região da Califórnia que abriga as mais importantes empresas de tecnologia e internet.

Pense no YouTube, comprado pelo Google por US$ 1,6 bilhão em 2006, e hoje avaliado em mais de US$ 100 bilhões. Os fundadores Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim são ex-funcionários do Paypal. Além disso, o Facebook, o Uber e o Airbnb, três das mais valiosas startups do mundo, receberam aportes de ex-funcionários do Paypal em seus estágios iniciais. “Eles foram realmente inteligentes e tinham uma agenda que foi cumprida com vários graus de sucesso”, diz Rob Enderle, da consultoria americana Enderle Group.

Os três membros mais proeminentes “dessa máfia”, além de Hoffman, são Peter Thiel e Elon Musk. Todos são bilionários.Hoffman, antes da venda do LinkedIn, tinha uma fortuna estimada em US$ 3,8 bilhões. Thiel contabilizava US$ 2,7 bilhões. Elon Musk, dono da fabricante de carros elétricos Tesla e da empresa espacial SpaceX, é o mais rico deles, com US$ 12,7 bilhões. Estima-se que existam mais de 200 pessoas que compõem esse grupo.Por essa razão, em vez de máfia, o termo mais apropriado seria a “diáspora do Paypal” que criou diversas empresas que acabaram se transformando em “unicórnios”, uma expressão para designar as startups com valor superior a US$ 1 bilhão. A Tesla, de Musk, por exemplo, vale US$ 33,2 bilhões. A SpaceX, US$ 12 bilhões. Fundada por Thiel, a Palantir, que presta serviços de tecnologia para a agência de inteligência CIA, é avaliada em US$ 20 bilhões.

Como explicar o sucesso dos membros dessa “máfia”? O Paypal, em seus primeiros anos, adotou uma série de estratégias que acabaram sendo adotadas pelas principais startups que surgiram a partir dos anos 2000. O meio de pagamento online, por exemplo, foi um dos primeiros a apostar em aplicativos, que hoje é uma obrigação para qualquer empresa iniciante. Neles, era possível enviar dinheiro até para quem não possuía uma conta bancária. Além disso, o Paypal foi pioneiro em incorporar widgets, um componente que pode ser utilizado em computadores, celulares e tablets para simplificar o acesso a um programa ou site. Esse recurso, por exemplo, é a base do sucesso do YouTube, pois os vídeos podem ser publicados em qualquer site sem nenhuma dificuldade técnica. Não bastasse isso, eles disseminaram o conceito do “beta”, que consagrou o Google. Segundo essa estratégia, um produto pode ser lançado sem estar pronto para que possa ser melhorado com as opiniões de seus consumidores. “De certa forma, o Paypal foi o modelo para o moderno Vale do Silício”, disse David Sacks, ex-diretor de operações do Paypal, em uma entrevista para site americano TechRepublic.

Mas essas estratégias só foram possíveis porque seus criadores eram avessos à administração tradicional. A maioria de seus líderes se conheceu na Stanford University, outro celeiro de empreendedores, ou na University of Illinois. A regra para contratação de funcionários era a amizade, que deveria sobreviver independentemente do fim que teria a empresa no futuro – eis uma das razões do apelido de máfia. “Nós não contratávamos apenas nossos amigos, mas pessoas que acreditávamos que poderiam se transformar em nossos bons amigos”, disse Thiel, em uma entrevista. Essa utopia e a pressão para concorrer com as estruturas tradicionais do mercado financeiro possibilitaram inovações tecnológicas que assustaram as empresas estabelecidas. A agilidade na tomada de decisões, no entanto, bateu de frente com a burocracia do eBay, o que levou a maioria a sair em debandada após a aquisição.

Fora do eBay, os membros da “máfia do Paypal” inovaram mais uma vez. Eles usaram a extensa rede de relacionamentos e a experiência para financiar startups, em um momento em que os fundos de venture capital estavam ariscos, por conta estouro da bolha pontocom, em 2001. Thiel, por exemplo, foi um dos primeiros investidores do Facebook. Ele aportou US$ 500 mil em 2004, quando a rede social acabara de ser criada. Hoje, esse investimento se transformou em mais de US$ 500 milhões, segundo estimativa da rede americana NBC News. Mas a joia de Thiel é o Founders Fund, que soma aplicações em 231 startups, entre elas, a Lyft, concorrente do Uber, e no site de compartilhamento de residências Airbnb. “Este fundo é a sua pedra angular”, diz Roger Kay, analista da consultoria americana Endpoint Technologies Associates. “Muito do seu capital original veio de pessoas que fundaram startups de sucesso. Por isso, seu conselho tem muita habilidade para avaliar o potencial de novos investimentos.”

O Founders Fund aplicou US$ 25 milhões no Yammer, rede social corporativa, cujo sócio fundador e CEO foi David Sacks, ex-diretor de operações do Paypal. A empresa, criada em 2008, foi adquirida pela Microsoft, em 2012, por US$ 1,2 bilhão. Thiel foi seguido por outros membros da máfia do Paypal. Roelof Botha, ex-diretor financeiro do Paypal, é sócio do Sequoia Capital, um dos mais míticos fundos de investimento do Vale do Silício. Hoffman, que vendeu o LinkedIn, é sócio do fundo Greylock Partners, com investimentos no Airbnb e outras 304 empresas. Outros que uniram forças foram Jeremy Stoppelman, o ex-vice-presidente de engenharia do Paypal, e Russell Simmons, outro executivo da empresa. Eles fundaram a Yelp, hoje avaliada em US$ 3,5 bilhões. Como toda máfia, esse grupo de empreendedores ganhou muito dinheiro. Mas, neste caso, não há nenhuma mácula em seus currículos.

Istoé

22/08/16

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