Não vou esquecer, diz idoso ao falar de prisão injusta por morte da mulher

Homem de 78 anos passou 3 dias na cadeia ao ser considerado suspeito. Ele foi solto após mulher procurar polícia e acusar o filho em Brodowski, SP.

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Após passar três noites em um centro de detenção provisória por suspeita de esfaquear e matar a mulher com quem foi casado por 58 anos, o aposentado Pedro Florentino de Souza disse que será difícil deixar para trás as acusações feitas pela Polícia Civil em Brodowski (SP). Ele considera que foi tratado injustamente pela polícia. “Não vou esquecer nunca.”

Pedro foi preso na segunda-feira (17) depois que a polícia apontou que as pegadas encontradas na cena do crime eram compatíveis com os chinelos usados pelo aposentado. Os investigadores também consideraram que não havia sinais de arrombamento na casa, o que apontou para a hipótese de que a idosa havia sido morta por alguém que não saiu do imóvel.

O caso, no entanto, sofreu uma reviravolta nesta quinta-feira (20) depois que a mãe de um adolescente de 16 anos procurou a polícia para acusar o filho pelo crime. Segundo a mulher, o jovem confessou ter matado a idosa para roubar. Ele foi apreendido e encaminhado para a Fundação Casa.

O delegado José Augusto Franzine, responsável pelo caso, negou que tenha havido um erro da Polícia Civil. “A única coisa que eu posso afirmar é que toda suspeita que até segunda-feira recaía só sobre o Pedro, agora recai também sobre o adolescente. Diminuiu um pouco a suspeita que havia sobre o Pedro. Temos mais uma linha de investigação agora.”

Liberdade
Pedro deixou a prisão na noite desta quinta-feira (21) por ordem da Justiça. O aposentado, de 78 anos, disse que viveu momentos de angústia no centro de detenção. “Eu não passei bem porque eu estava longe da família, perdi a mulher. Fui tratado como um criminoso, como um réu mesmo. O coração faltava explodir porque é uma coisa que você não merece.”

Francisca André de Souza, de 76 anos, foi achada morta no quintal de casa. Segundo o idoso, no dia do crime, a mulher levantou cedo, como de costume, e pediu as roupas dele para lavar. Pedro disse que dormiu novamente e que, ao sair da cama, encontrou o corpo da mulher. “Eu não escutei ela chamar de jeito nenhum.”

Os filhos acionaram a polícia e o resgate, mas a vítima já estava sem vida. De acordo com a Polícia Civil, não havia sinais de que a casa havia sido invadida e uma marca de chinelo, como o que Pedro usava, foi achada próximo ao corpo da vítima. Com isso, ele foi apontado como principal suspeito e, preso.

“Me levaram pra delegacia. Aí o delegado foi falando e a gente é analfabeto, não sabe explicar direito. Perguntaram: ‘como é que você matou?’ É difícil. O duro é que eles falam: ‘por que você matou, como é que você matou ela?’ Eu não matei ninguém. O delegado falou assim o senhor está preso. Eu não falei nada, eu esperei a decisão dele. Falei, meu Deus, não é eu. Ele não acreditou”, disse.

Nesta quinta-feira, a auxiliar de costura Miriane Brasil procurou a polícia para afirmar que o filho dela, um jovem de 16 anos, havia confessado o crime porque tinha a intenção de roubar o casal. Abalada, Miriane lamentou a atitude do filho e disse que o jovem demonstrou frieza ao descrever como matou a idosa. “Eu morri por dentro”, disse.

Em depoimento à polícia, no entanto, o jovem negou envolvimento no crime.

O idoso considera que foi tratado de forma injusta pela polícia. “Eu não faço isso nem um grilo na rua. Eu fazia tudo com ela, sempre juntos. Vem esses bandidos e fazem isso comigo. Ainda bem que a minha família está me apoiando muito, estou muito emocionado.
Esquecer eu não vou esquecer nunca. Vamos pelejar, pegar com Deus primeiro.”

 

Despreparo
Para o filho do casal, Nivaldo Florentino de Souza, a investigação apresentou falhas desde o início. “Foi muito fraco o serviço da polícia científica. Tem a gaveta que pegou a arma e ninguém se preocupou de tirar uma digital ou apreender a gaveta. Só olharam a pegada de chinelo no chão e tiraram foto. Exibiram ele [o pai] como se fosse um troféu”, disse.

O advogado da família, Élizon de Souza Vieira, afirmou que vai mover uma ação contra o Estado. “Isso é fruto do despreparo, de açodamento, de alguém que quer dar uma resposta rápida para a sociedade e comete um erro dessa envergadura. A polícia errou e errou muito. Ele deixou de ir ao velório da sua esposa, com quem foi casado por 58 anos, por um despreparo policial”, declarou.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a investigação preliminar apontou a suspeita sobre o marido, mas não comentou se houve erro na condução.

g1

22/10/2016

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