Jornais americanos reagem a ataques de Donald Trump

Mais de 300 veículos de comunicação americanos anunciaram a publicação de editoriais sobre a importância da liberdade de imprensa nesta quinta-feira (16/08), em uma campanha coordenada em resposta a ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a mídia.

Com a hashtag #EnemyOfNone (Inimigos de Ninguém, em tradução livre), a campanha foi organizada pelo jornal The Boston Globe e teve aderência tanto de publicações de peso como The New York Times quanto de jornais menores, informa o Terra.

“Hoje nos EUA temos um presidente que criou um mantra dizendo que membros da mídia que não apoiam abertamente as políticas do governo atual são ‘inimigos do povo'”, afirma o editorial de The Boston Globe. “Essa é uma das muitas mentiras que têm sido proclamadas por esse presidente”, acrescenta o jornal no texto, intitulado “Jornalistas não são o inimigo”.

Para o jornal, o tratamento dado por Trump à imprensa também estaria encorajando outros líderes, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, a tratar jornalistas como inimigos.

Um exemplo dos ataques de Trump direcionados à imprensa foi uma publicação em sua conta no Twitter em fevereiro de 2017, em que acusa The New York Times, a emissora CNN e outras organizações de mídia de publicarem fake news (notícias falsas) e serem inimigos do povo americano, falas que foram repetidas em diversas outras ocasiões.

A posição de Trump é vista por muitos no setor como uma ameaça ao papel da mídia de monitorar a classe política e evitar abusos de poder por parte do governo, podendo colocar em risco o direito à liberdade de imprensa garantido pela Primeira Emenda à Constituição dos EUA.

Para alguns ativistas dos direitos da mídia, os comentários de Trump acabaram incitando a ameaças contra jornalistas que cobrem política.

The New York Times, frequentemente alvo das críticas de Trump, publicou um editorial de sete parágrafos com o título “Uma imprensa livre precisa de você”, todo em letras maiúsculas.

O jornal afirma ser correto criticar a imprensa quando o objetivo é apontar algum erro. “Mas insistir que verdades de que você não gosta são ‘fake news’ é perigoso para a força vital da democracia. Chamar jornalistas de ‘inimigos do povo’ é perigoso, e ponto final”, diz o editorial.

Alguns jornais, porém, mostraram-se céticos em relação à campanha, como The Wall Street Journal, de propriedade do aliado de Trump Rupert Murdoch e que decidiu não participar. O colunista do jornal James Freeman disse que a iniciativa de The Boston Globe vai contra a independência dos conselhos editoriais. Trump tem direito à liberdade de expressão como qualquer outra pessoa, escreveu.

Embora tenha apoiado a iniciativa, o Baltimore Sun fez a ressalva de que “uma resposta coordenada de organizações de mídia independentes alimenta uma narrativa de que estamos, de alguma maneira, alinhados contra esse presidente republicano”.

Não está claro quanto impacto a campanha terá. “As pessoas que leem editoriais não precisam ser convencidas”, disse Ken Paulson, ex-editor-chefe do USA Today. “Não são elas que tentam calar você em comícios presidenciais.”

Paulson avalia que a mídia precisaria de uma campanha de marketing de maior alcance capaz de ressaltar a importância da liberdade de imprensa como um valor fundamental.

Republicanos nos EUA têm adotado uma postura cada vez mais negativa em relação à imprensa nos últimos anos. Uma pesquisa do Pew Research Center mostra que a percentagem de eleitores do partido e republicanos em potencial que acreditam que a mídia tem um efeito negativo sobre o país subiu de 68% em 2010 para 85% em junho de 2017.

16/08/2018

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