Homenagens a Audálio Dantas destacam legado do ilustre jornalista alagoano

A pequena cidade de Tanque d’Arca, envolta pelas suas serras e matas densas foi palco, nessa sexta-feira (22), de grandes homenagens ao ilustre jornalista e escritor alagoano, Audálio Dantas, que faleceu no dia 30 de maio, após lutar bravamente com um câncer.

Suas cinzas foram jogadas na nascente do rio São Miguel, no vale do Bananal, em cerimônia fechada com a presença de familiares e amigos íntimos.

Com o propósito de resgatar e perpetuar a memória do jornalista na sua cidade natal foi inaugurado o Espaço Literário Audálio Dantas. “Tanque d’Arca era seu porto seguro. E é nosso dever honrar um homem que serve ainda hoje de inspiração para tantos jovens daqui.” Declarou Hélvio Peixoto, um dos empresários que se uniu a pequenos e médios empreendedores da região e outras autoridades para realizar as homenagens.

“Audálio era um grande homem comprometido com a cidadania e democracia.” Afirma o secretário de comunicação, Ênio Lins. “Essas homenagens são uma demonstração do quanto vivo ficará a memória dele em Tanque d’Arca.” O secretário lembrou também que em 2017, a convite do Estado, Audálio Dantas, já doente, esteve em Alagoas, palestrando na comemoração aos 200 anos de Alagoas.

Esdras Gomes, jornalista, escritor e amigo íntimo declarou que Audálio deixa “um legado para o País, para os profissionais e a imprensa brasileira e que fará uma enorme falta a sua geração”. Ele contou ainda sobre os primeiros momentos da amizade dos dois. “Minha mãe era professora dele e foi por meio dela que o conheci. Tornou-se meu amigo e conselheiro rapidamente. Eu acho que eu não perdi somente um companheiro, acho que perdi um irmão”.

Audálio Dantas foi um dos nomes mais brilhantes do século XX, com atuação também na primeira década do século XXI. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo nos anos mais duros da ditadura e não se intimidou, denunciando o assassinato sob tortura de Vladimir Herzog, e, publicando a biografia do mesmo ganhou o prêmio Jabuti em 2014. Neste mesmo ano, recebeu o prêmio Juca Pato, em São Paulo, entregue ao intelectual do ano.

Premiado pela ONU, repórter audacioso e engenhoso, publicou biografias vigorosas, entre elas as de Graciliano Ramos. Descobridor de talentos, como a favelada Carolina Maria de Jesus, que no início dos anos 60, graças a ele, conseguiu publicar seu livro Quarto de Despejo, que virou best-seller, traduzido para 16 idiomas.

Mas mesmo com todos os títulos e realizações, Audálio é lembrado de formas singelas pelos moradores de Tanque d’Arca. Por jogar ximbra nas calçadas, por ser filho do padeiro da cidade. Pequenas coisas que serviram de inspiração para outras crianças sonharem e irem em busca de suas próprias realizações.

“O menino tanquedarquense sonhador que foi em busca do seu destino”, escreveu uma aluna do ensino fundamental, em um projeto de poemas realizado na Escola Rosa de Castro Fonseca do município.

Parece que a literatura vai correndo no sangue dos tanquedarquenses. Mais duas escritoras de Tanque d’Arca, Josi e Neide Gomes conheceram o jornalista e participaram da inauguração do Espaço Literário. “Ele falava daqui com uma paixão que eu tinha esquecido”, contou, Neide Gomes.

Na mesma tarde, houve a entrega do Título de Cidadão Honorário à família de Audálio Dantas, na Casa legislativa de Tanque d’Arca. “Tinha duas coisas muito importantes que o Audálio, enquanto estava internado, tinha muita vontade de fazer.

A viagem para a Espanha, que ele tinha ganho por uma revista e a outra era receber esse título aqui em Tanque d’Arca.” Conta sua esposa, Vanira Kunc. “Mas ele não achava provável que fosse a Espanha, mas vir aqui… Ele tinha tanta certeza que viria. Mas infelizmente não conseguiu”, revela emocionada, com a lembrança forte do marido que era tão apaixonado pela terra onde foi criado.

Os tributos foram finalizados com a missa na igrejinha São Sebastião, em memória de Audálio Dantas, que recebia durante a vida do jornalista, fundos financeiros para reformas e manutenções.

Sua filha, Juliana Dantas, também jornalista, influenciada pelo exemplo de vida dos pais, agradeceu em nome da família por todas as homenagens. “Meu pai com certeza ficaria muito feliz, ele lutou muito para estar aqui em vida, nesse chão que sempre esteve presente em suas pautas, que norteou a vida dele, tanto no jornalismo como na luta pelos direitos humanos. Ele saiu daqui, mas aqui nunca saiu dele. Sempre fez questão de voltar, especialmente quando os filhos nasciam. Conhecemos Tanque d’Arca desde pequenos. É uma terra que fez toda diferença.”

Ascom – 23/06/2018

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