Ex-guarda investe em padaria sem caixa: É uma relação de confiança

Leslye Lima optou por modelo de negócio sem atendimento ao cliente.

Há quem diga que nos dias atuais a relação de confiança entre as pessoas é cada vez mais rara, seja pela mania que alguns têm em tirar proveito de qualquer situação ou mesmo pelas decepções diárias da vida que nos deixam mais céticos. Mesmo assim, uma ex-guarda municipal – que lidou diretamente com esse tipo de comportamento – optou por investir em um modelo de negócio onde a confiança é fundamental: uma padaria rústica instalada na beira de uma estrada de Piedade (SP), sem caixa, ou seja, sem uma pessoa para intermediar o processo de compra e receber o dinheiro dos clientes.

Em uma pequena estrutura que se assemelha a um chalé, Leslye de Albuquerque Lima, de 43 anos, expõe pães, biscoitos e produtos em conserva, tudo feito por ela, de forma bem caseira no fogão de lenha. No local, um aviso em uma folha sulfite explica como funciona o processo de compra. O cliente escolhe o produto que deseja e deposita o valor demarcado na caixa dos Correios da casa da ex-guarda, que mora logo ao lado. “É uma relação de confiança. Resolvi correr o risco em tentar e dei uma chance para as pessoas mostrarem o seu melhor”, afirma o G1.

O cliente ainda tem a opção de pagar pela mercadoria com cartão de crédito e débito. Mas, para isso, ele vai precisar chamar Leslye no portão da casa dela. É só bater palma, que ela sai com o aparelho para finalizar a compra. “E quando alguém precisa de troco também me chama no portão de casa, que eu saio para dar, sem problemas”, conta a empresária que comemora o sucesso da padaria rústica.

“As pessoas se mostraram muito mais honestas do que a gente está acostumado a ver. Eu fico muito orgulhosa do pessoal que passa por aqui, eles entenderam a ideia e respeitam”.

Tanta é a honestidade que, em um ano de funcionamento, a padaria só teve dois casos de clientes que levaram produto sem pagar, sendo que em um desses casos o “ladrão” era um cachorro que passava pelo local. “É que nos primeiros dias a mesa que eu usava era muito baixa, daí um cão subiu fácil na mesa, pegou uma broa e saiu com ela na boca sem pagar”, brinca. “Além deste caso, teve uma vez que um carro parou, pegou um pão e foi embora sem pagar. Mas foi uma pessoa, em um ano, acho que é tolerável. Foi uma perda insignificante diante de tudo que eu recebi que foi a honestidade das pessoas”, ressalta a empresária.

Inspiração x necessidade

Leslye conta que a ideia surgiu depois que uma escola do bairro em que ela morava e trabalhava como guarda municipal em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, optou por tirar os muros. “A escola era sempre invadida por criminosos, que levavam de tudo da unidade, computadores, comida. Daí o diretor, cansado da situação, resolveu abrir as portas da escola porque não estavam adiantando em nada as medidas de segurança. Ele resolveu confiar nas pessoas. E, no fim, funcionou. A escola nunca mais foi alvo de criminosos”.

Assim, quando se mudou para o interior do estado e deixou a corporação, ela precisava arrumar uma nova ocupação, mas que não a tirasse de casa. Afinal, ela tem uma mãe cadeirante e filhos pequenos. E como ela sempre gostou de cozinhar, resolveu começar a fazer pães e biscoitos caseiros para vender. “No começo, peguei um gazebo que tinha no quintal da minha casa e coloquei na beira da estrada. E, como não tenho condições de pagar alguém para ficar lá cuidando pra mim, me inspirei no que aconteceu na escola lá e iniciei o meu negócio e tem dado muito certo”.

Diante do sucesso da padaria sem caixa, Leslye transformou o gazebo em um chalézinho para vender e agora sonha em ampliar o negócio. “Eu tenho um espaço do lado de casa, que é um terreno da minha mãe, que eu pretendo devagarzinho montar uma padaria, mas só para eu poder sentar e tomar um café com o pessoal, vou manter o esquema de sem caixa mesmo. Mas, como terá mais produtos, tudo dependerá do desenvolvimento da relação de confiança com os meus clientes. Mas como já tive a prova que existem muito mais pessoas honestas do que desonestas, isso acontecerá em breve”, finaliza.

23/04/2017

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