Entrevista Marx Beltrão (Mtur): Turismo na contramão da crise

Pasta estratégica, mas por vezes aquém de seu potencial, o Ministério do Turismo sempre trabalha sob o olhar atento dos players do setor, que têm uma série de pleitos junto ao Governo Federal. A frequente troca de mandatário – os últimos dois ministros permaneceram pouco mais de um ano no cargo – gera ainda mais expectativas, por não garantir a continuidade das ações e do diálogo aberto com o setor privado. Desde outubro do ano passado, o peemedebista Marx Beltrão é quem tem o desafio de fortalecer a importância econômica da atividade turística e intermediar as demandas do setor. O deputado federal tomou posse no Brasil pós-impeachment, e sinalizou buscar em seu mandato uma gestão eficiente, a busca pelo diálogo e o compromisso com a inovação.

Hotelnews: O turismo vem sendo apontado como um dos pilares da recuperação econômica do País, embora represente cerca de 4% do PIB nacional. Como o Ministério do Turismo trabalhará nos próximos anos para transformar este cenário?

Marx Beltrão: O turismo caminha na contramão da crise. Enquanto todos os setores recuaram ou ficaram estagnados, as atividades do turismo apresentaram leve alta. No contexto global, o setor já provou ser um dos mais resilientes. Enquanto a economia mundial cresceu apenas 2,4% em 2015, o turismo avançou quase o dobro (4,4%). Graças ao turismo, a Grécia (15º país mais visitado do mundo) e a Espanha (3º país mais visitado) evitaram o colapso completo no cenário pós-crise de 2008. Para aumentar o peso do setor na economia brasileira e incluir o turismo de uma vez por todas na agenda estratégica do País, estamos preparando um pacote de medidas para reduzir a burocracia e aumentar a produtividade das empresas, além de gerar mais empregos no setor.

HN: Os grandes eventos esportivos movimentaram o turismo dentro do Brasil, mas algumas cidades estão atualmente sofrendo com superoferta de meios de hospedagem, malha aérea reduzida e queda na demanda de viajantes. O legado destes grandes eventos não se concretizou? De que maneira hotéis, companhias aéreas e destinos podem trabalhar em conjunto com o MTur para uma recuperação dos números positivos vistos em 2014, por exemplo?

MB: Na realidade, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016 foram um marco de um singular momento do turismo brasileiro, que permitiram uma transformação de caráter econômico do País e reforçaram a vocação turística do Brasil. No período das Olimpíadas e Paraolimpíadas, recebemos mais de 500 mil turistas internacionais e registramos um aumento de 38% na receita cambial do turismo. Nossa imagem ganhou força no exterior como bom anfitrião. Mais de 87% dos turistas estrangeiros ouvidos pelo Ministério do Turismo manifestaram intenção de retornar ao País. A boa avaliação é maior ainda entre os brasileiros: 94,2% dos entrevistados disseram que querem voltar ao Rio de Janeiro, por exemplo. Mas isso não quer dizer que vamos parar por aí. Vamos intensificar todos os esforços, especialmente com a indústria hoteleira, companhias aéreas e outros parceiros, para fortalecer a qualificação e a promoção dos destinos turísticos nacionais. O pacote de medidas que estamos discutindo prevê o reforço das promoções doméstica e internacional.

HN: Que impactos a curto e longo prazo a proposta da isenção de vistos para países estratégicos terá? Como o MTur está dialogando com o Governo Federal, levando em conta questões como segurança e reciprocidade?

MB: Essa medida é um dos nossos carros-chefes para impulsionar o turismo e dar ao setor o papel para revitalizar a economia brasileira. Estamos alinhados com a Casa Civil e com o Ministério do Planejamento, e debatendo com o Ministério das Relações Exteriores, para implementá-la de fato. De acordo com a Organização Mundial de Turismo, a dispensa do visto pode gerar um aumento de até 25% no fluxo turístico dos países beneficiados para o Brasil, o que significaria uma receita de até R$ 1,4 bilhão em dois anos. É fundamental que as pessoas entendam que essa é uma medida consular que não se trata de afrouxamento das medidas de segurança. O visto nada tem a ver com risco à segurança nacional. Precisamos desfazer esse mal
entendido para conseguirmos avançar nessa questão.

HN: Com as mudanças na Embratur, de que maneira o trabalho conjunto com o MTur irá também se transformar? Que benefícios o segmento do Turismo verá com esta mudança?

MB: Nos últimos anos o mundo mudou muito e, por isso, precisamos modernizar a Embratur para possibilitar uma reorientação estratégica da autarquia e permitir que seu processo de gestão seja mais compatível com a complexidade de sua missão institucional, voltada à promoção internacional do turismo brasileiro. Com a reformulação do atual modelo, conseguiremos potencializar a ação conjunta entre a Embratur e o Ministério do Turismo para promover o Brasil interna e externamente e ampliar ainda mais o número de turistas internacionais, impactando, principalmente, na receita gerada com os gastos desses visitantes.

HN: Como estão as tratativas para alterações na Lei Geral do Turismo e o que se pode esperar de decisivo? Haverá alguma mudança nos próximos anos?

MB: A nova Lei Geral do Turismo que estamos propondo visa criar um ambiente de negócios mais propício para o empreendedorismo. Acreditamos que assim poderemos agilizar o desenvolvimento do turismo no Brasil. Com regras mais claras e condizentes com os desafios para o crescimento do País, todos os setores sairão ganhando. As sugestões do trade já foram apresentadas ao Conselho Nacional do Turismo. Todas foram consideradas pelo Ministério do Turismo, infelizmente algumas propostas eram conflitantes e, por isso, nem todas poderão ser implementadas.

HN: A legalização dos cassinos é outro pleito importante para a hotelaria e já havia recebido apoio do MTur. Se aprovada esta proposta, qual acredita ser a melhor forma de implantação destes estabelecimentos? Que papel o MTur assume neste contexto?

MB: Defendemos a legalização dos cassinos integrados a resorts, com regras claras de governança. E estamos falando de resorts com infraestrutura completa com shoppings, complexo gastronômico e centros de convenções, por exemplo. Esta é uma posição do Ministério do Turismo, mas o governo como um todo vai aguardar a discussão amadurecer no Congresso Nacional, onde já tramitam alguns projetos sobre o tema.

HN: O custo Brasil, e especialmente a tributação dos empreendimentos turísticos, é um entrave para todo o setor. Que ações o MTur tem autonomia para propor como auxílio para o setor? Há alguma proposta a ser feita já neste início de ano?

MB: O custo Brasil é de fato um entrave para atrairmos investimentos. De uma maneira mais ampla o governo tem discutido o assunto, proposto algumas soluções e adotado algumas medidas que impactam diretamente na questão, como o combate à corrupção. No Turismo, algumas ações que temos proposto ajudam a desburocratizar o nosso setor, o que contribui para reduzir o custo Brasil.

HN: A privatização de algumas estruturas como aeroportos, parques e o Autódromo de Interlagos, incluindo a abertura do mercado brasileiro para 100% do capital estrangeiro, foi discutida como uma saída para a manutenção e modernização dos equipamentos turísticos. Algum projeto já está em andamento? Como o MTur vem trabalhando com isto?

MB: Me reuni pessoalmente com o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, para discutir a concessão de parques nacionais. Apesar de o Brasil ser considerado o melhor país do mundo em atrativos naturais pelo Fórum Econômico Mundial, os parques nacionais recebem 7,1 milhões de visitantes enquanto nos EUA recebem 307 milhões. Em dezembro foram apresentados os projetos de concessão de serviços turísticos nos parques de Brasília (DF), Chapada dos Veadeiros (GO) e Pau Brasil (BA). Acredito que esta medida vai contribuir para aproveitarmos de maneira sustentável os nossos ativos naturais.

HN: Quais os principais desafios do Turismo atualmente? Onde estão os principais gargalos? Dentro deste cenário, como enxerga a hotelaria e suas demandas?

MB: Como dito anteriormente, estamos trabalhando em uma série de medidas para aproveitarmos todo o nosso potencial. Nosso objetivo é rever a lei que regulamenta o turismo, fortalecer os destinos turísticos e estratégias para aumentar o fluxo de turistas nacionais e estrangeiros, estreitar o diálogo com o poder público nos estados, abrir leques para atrair investidores, enfrentar gargalos do setor e ampliar as condições para que o turismo nacional continue sendo um instrumento de geração de emprego, renda e desenvolvimento para o País. São grandes projetos e, nesse contexto, o papel da indústria hoteleira é essencial para colocarmos o turismo em outro patamar dentro da estratégia de desenvolvimento.

Fonte : Hotelnews

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