Conheça o “atleta fantasma” que assombrou Renan Calheiros

O principal personagem da Operação Havana, deflagrada na sexta-feira (18/8) e que descobriu a existência de esportistas fantasmas beneficiados pelo programa Bolsa Atleta, já teve o nome envolvido em escândalos rumorosos do cenário político. O advogado Bruno de Miranda Ribeiro Brito Lins ganhou projeção ao denunciar o ex-sogro, Luiz Carlos Garcia Coelho, a quem acusava de receber propina em nome do senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Segundo Bruno, Renan era o destinatário final de dois esquemas. Um envolvia suposta propina paga pelo banco BMG. O caso, que veio à tona em 2007, chegou a ser investigado em desdobramentos do mensalão, mas até hoje nada foi provado contra o parlamentar.

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Em outra denúncia feita naquele mesmo ano, Bruno disse que Renan teria recebido recursos desviados de ministérios comandados pelo PMDB. O advogado afirmou, em depoimento à Polícia Civil do DF, que chegou a buscar pessoalmente algumas malas de dinheiro e contou ter visto mais de R$ 3 milhões dentro delas. Informou o Metrópoles.

Uma dessas malas teria sido levada para a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan mantinha um relacionamento extraconjugal. Nos dois episódios, segundo Bruno, parte desse dinheiro passava pelo ex-sogro, Luiz Carlos Garcia Coelho.

Antes de acusar Renan, no entanto, a relação entre o advogado e o político era bem diferente. Em 1999, Bruno se casou com Flávia Frias Garcia, à época assessora do ex-presidente do Senado. O parlamentar foi um dos padrinhos de casamento, ao lado do ex-governador José Roberto Arruda (PR) e do ex-piloto de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi. Anos depois, Bruno se divorciou de Flávia, que se casou com o deputado distrital Robério Negreiros (PSDB).

Do casamento ao Bolsa Atleta
Agora, Bruno é acusado pela Polícia Federal de ser o maior beneficiário do esquema que fraudou o Ministério do Esporte entre março e setembro de 2012. Ele teria embolsado ao menos R$ 520 mil.

Para conseguir o dinheiro, Bruno teria contado com a ajuda de Jose Hector Blanco Zorrilla, então coordenador do Bolsa Atleta. Atualmente, Zorrilla é sócio do bar candango Versão Brasileira, na 204 Sul. A suspeita dos policiais é que o dinheiro desviado por ele tenha servido para abrir o empreendimento.

A PF ainda não sabe qual a ligação entre Bruno e Zorrilla. Mas, no período de um ano, os dois teriam inventado 25 “atletas fantasmas”, inclusive de alto rendimento e nível olímpico. Os valores das bolsas seriam depositados em seis contas, sendo a maioria delas no nome de Bruno, da mãe dele e de uma de suas sócias em empresas que, de acordo com a Policia Federal, são de fachada.

O Metrópoles apurou que, para movimentar e justificar o dinheiro, o advogado teria criado empresas de consultoria, turismo, tecnologia e construção. Apenas nas contas em nome de Bruno, da família e da sócia foram depositados R$ 520,8 mil do Ministério do Esporte. Além disso, um frentista aparece como beneficiário de R$ 282,6 mil. Para a PF, o homem foi um laranja, e o valor também pode ter sido repassado ao advogado.

A administração do Versão Brasileira rebateu as suspeitas da polícia. Informou que o dinheiro não poderia ter sido usado para abrir o bar, pois “Zorrilla passou a integrar o quadro societário depois que o estabelecimento já tinha quatro anos de funcionamento e pleno êxito comercial”.

Coordenador do Bolsa Atleta
De acordo com a PF, Jose Hector Blanco Zorrilla, que teria desviado os pagamentos, foi um dos que menos receberam valores do Bolsa Atleta em sua conta. Foram R$ 44,4 mil depositados em seu nome.

Edigema Garrido Zorrilla, irmã do ex-coordenador do Ministério do Esporte, também aparece na lista da polícia como “atleta fantasma”. Em sua conta foram depositados R$ 37,2 mil. Os dois são cubanos e, por isso, a operação deflagrada na última sexta (18) foi batizada de Havana.

Ao todo, R$ 885 mil teriam sido desviados pela quadrilha — em valores atualizados, a cifra ultrapassa R$ 1 milhão.

Procurado pela reportagem, o Ministério do Esporte informou que a investigação partiu de denúncia do próprio órgão. A pasta reiterou a importância do programa que “desde 2005 apoiou 23 mil atletas, com resultados expressivos como os obtidos nos Jogos do Rio 2016, quando 77% da delegação olímpica e 90,9% da paralímpica eram integradas por beneficiários. Dezoito das 19 medalhas olímpicas no Rio de Janeiro e todas as 72 paralímpicas foram conquistadas por atletas bolsistas”.

Depois da publicação da matéria, a assessoria de imprensa de Renan Calheiros afirmou que o senador não se encontra com Bruno há 15 anos. “Esse rapaz tem um histórico de conduta duvidosa. Há alguns anos, ele fez denúncias absurdas numa tentativa de obter vantagens pessoais. Provou-se que eram mentira, que o senador nada tinha a ver com irregularidades. Agora, fica demonstrado mais um desvio de conduta do Bruno”, disse por meio de nota.

A defesa do ex-governador Arruda não retornou as ligações do Metrópoles. A reportagem não conseguiu localizar Bruno, Luiz Carlos Garcia Coelho ou representantes legais dos dois para comentar o assunto.

O Bolsa Atleta
O governo brasileiro mantém, desde 2005, o programa de patrocínio individual de atletas no mundo. Os beneficiários precisam ser de alto rendimento, além de obterem bons resultados em competições nacionais e internacionais de sua modalidade.

A iniciativa garante condições mínimas para que os atletas se dediquem, com exclusividade e tranquilidade, ao treinamento e competições locais, sul-americanas, pan-americanas, mundiais, olímpicas e paralímpicas.

Desde 2012, com a Lei nº 12.395/11, é permitido que o candidato tenha outros patrocínios. Atletas consagrados também podem ter a bolsa e, assim, contar com mais uma fonte de recurso para suas atividades.

Atualmente, são seis as categorias oferecidas pelo Ministério do Esporte no programa: Atleta de Base, Estudantil, Nacional, Internacional, Olímpico/Paralímpico e Pódio. A partir da assinatura do termo de adesão, os contemplados recebem o equivalente a 12 parcelas do valor definido na categoria: Atleta de Base (R$ 370); Estudantil (R$ 370); Nacional (R$ 925); Internacional (R$ 1.850); Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil).

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