Bailarino que saiu de assentamento rural se adapta à nova rotina no Canadá

Marcos Vinícius Arantes conseguiu uma bolsa em uma renomada escola de dança do país. Ele viveu em acampamento de sem-terra em Pederneiras (SP).

O bailarino Marcos Vinícius Arantes, que viveu parte da infância em um assentamento rural de Pederneiras (SP) e é filho de sem-terras, chegou neste mês de abril à renomada escola de balé Bloch em Vancouver, no Canadá. O jovem, que conviveu com o chão de terra batida e cresceu em uma casa feita de madeira e lona, agora se diverte na neve e tem aulas todos os dias com a coreógrafa brasileira que enxergou o talento dele e o levou para o exterior.

Marcos conquistou a vaga depois de desbancar outros 100 bailarinos durante um festival de dança no interior de São Paulo. O curso no Canadá vai durar meio ano. E ele já está adaptado à nova escola e também ao clima do país. “É totalmente diferente, e muda muito, mas está sendo incrível mergulhar na neve, como eu mergulhava na terra e sem se sujar”, conta rindo, segundo o G1.

Mas para chegar até o Canadá, o caminho não foi dos mais fáceis. A infância foi simples. Os pais vivem do que produzem na horta do acampamento sem-terra e Marcos percorria longas distâncias, muitas vezes a pé, para participar de projetos sociais, aulas de teatro, até que ingressou na Companhia Estável de Dança de Bauru.

“Ele sempre demonstrou ser diferente. Uma vez ele escrever uma cartinha para o Papai Noel pedindo material escolar. E o rapaz que deu o material para ele disse ‘estuda e faz o que você gosta porque a única coisa que ninguém desse mundo vai tirar de você é o conhecimento’“, afirma Rosane Arantes dos Santos, mãe de Marcos.

Quando decidiu que o que gostava de fazer era dançar, o apoio da mãe veio logo de cara. “A professora sempre falou que ele não tinha vergonha, então ele sempre fazia a parte principal do teatro, um artista, não é? E quando ele disse que gostava de balé eu falei, se você gosta, então vai dançar”. Já para convencer o pai sobre o amor pela dança foi um pouco mais difícil. “Eu nunca imaginei que meu filho ia fazer balé. Eu imaginava que minha filha pudesse fazer balé. Tem muito preconceito hoje, e o preconceito que eu falo é dele ser, perante à sociedade, mal visto, tem muita agressão”, conta José Carlos de Moraes. Mas, Marcos enfrentou todos os desafios e o pai acabou aceitando.

”Ele mostrou para mim ‘é isso que eu quero’ e disse que só o que precisava era isso, que estrutura ele sabia que não tínhamos, mas ele queria só o nosso apoio. E conforme a gente apoiava isso parece que entrava dentro dele e ele tinha mais força”, completa o pai.

Marcos ganhou uma bolsa de pouco mais de R$ 500 na companhia de Bauru onde estudou balé por 2 anos e deu duro, ensaiava todos os dias e fez mais de 10 apresentações só no Teatro Municipal da cidade. “A banca avaliou que ele era um bailarino que tinha muito talento e com o tempo, se ele aprimorasse as técnicas de balé clássico, ele poderia chegar lá”, explica Silvado Camargo, coordenador da Companhia Estável de Dança de Bauru.

Foi aí que chegou a notícia de que iria para o Canadá. Quem escolheu o Marcos, foi a coreógrafa Mônica Proença, que responsável pelos bolsistas brasileiros. ” O Marcos demonstrou, além de ter uma técnica boa como bailarino, que é preciso para ser um profissional, ele tem alma, ele diz alguma coisa como artista.”

No outro país, Marcos tem aulas todos os dias que, segundo ele, estão valendo muito a pena. Porque seja na terra vermelha, ou no tablado da escola canadense, o Marcos sabe que cada passo dado, é um a mais, para vencer na própria vida.

29/04/2017

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